domingo, 27 de maio de 2012

Por que a Ciência muda o que dizia ser verdade?

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Ajude os alunos a refletir sobre a relação entre contexto social e prática científica, levando-os a perceber que o conhecimento sobre um mesmo tema pode se transformar ao longo do tempo
Ciênciaproduzconhecimento

Objetivos
- Examinar o método científico e o fazer Ciência.
- Observar o contexto sociológico e cultural que envolve a prática científica.
- Perceber que a verdade científica é transitória

Conteúdos
- A metodologia científica e as ciências biológicas.
- Paradigmas em Ciência.
- História da investigação da febre puerperal.

Anos

Ensino Médio.

Tempo estimado

2 aulas.

Materiais necessários
- Cópias das reportagens: "Ovo emagrece!"; "Chocolate emagrece sim, confirma novo estudo" ; "Esperança contra câncer de mama" ; "Poluição faz mal ao coração"   disponíveis no site da revista Saude!
- Computadores com acesso à internet.

Desenvolvimento
1ª aula
Comece a aula perguntando qual é o produto do trabalho dos cientistas. As respostas provavelmente citarão invenções, tecnologias e o próprio conhecimento. É interessante, neste momento, ajudar a turma a definir e qualificar cada um desses produtos da atividade científica. A Ciência, em sua forma mais pura, gera conhecimento que, por sua vez, abre possibilidades para o desenvolvimento de invenções e novas tecnologias. Introduza as seguintes questões:

-  O conhecimento é absoluto?
- Trata-se de uma verdade atemporal?

Leia mais Faça a classe pensar na ciência

Faça intervenções no para que o grupo perceba que o conhecimento tem a ver com o contexto histórico e cultural no qual está inserido. Com isso, leve os alunos a perceber que a verdade científica serve por um tempo e para um grupo - e que ela é transitória, não dura para sempre, embora existam algumas que perdurem há muito tempo. Conte que esse é um fato conhecido pelos médicos. Ou seja, as alegações científicas entram em declínio conforme aparecem novos trabalhos que as questionam ou dificuldades em reproduzir seus resultados originais.

A durabilidade de uma verdade científica pode depender também da qualidade do trabalho do cientista. A produção científica atual é volumosa e certamente existem produções de qualidade duvidosa. Ressalte que, entretanto, há exemplos que são extremamente valorizados em uma determinada época por apresentarem benefícios imediatos e que, com o tempo, passam por uma verdadeira reviravolta. Cite o exemplo do DDT utilizado como inseticida: suas propriedades inseticidas foram descobertas por Paul Hermann Müller, da Geigy Pharmaceutical, em 1948. O impacto dessa descoberta foi tão grande que, já em 1948, Müller ganhou o Nobel de Medicina.

Contudo, em 1969, a Organização Mundial da Saúde (OMS) abandonou o uso do DDT para o controle da malária devido à resistência dos mosquitos. Na década de 60, o DDT foi condenado pelo livro Primavera silenciosa, de Rachel Carson, por provocar efeitos danosos à saúde humana e ao ambiente, representado pelas teias alimentares. Discuta com os alunos: Müller estava errado? As verdades sobre o DDT eram equivocadas? É certo que não. A conjuntura mudou. O tempo introduziu outras variáveis e, assim, a verdade ficou relativizada. Resultado: tornou-se transitória.

Aproveite a reflexão e forneça outros exemplos aos alunos. As antigas afirmativas científicas sobre os efeitos nefastos das gorduras, hoje, dizem o oposto em relação a muitas delas. O que antes engordava, agora faz emagrecer. Como pode haver duas interpretações opostas sobre o mesmo tema? Conte que tudo começou com uma relação quase fóbica com as gorduras, por conta da ideia geral de que o alto consumo de lipídios estava ligado à obesidade e a problemas cardiovasculares. Em seguida, foram descobertas as gorduras saturadas, que seriam maléficas, e as gorduras insaturadas, que seriam saudáveis e até poderiam diminuir a taxa de colesterol ruim no organismo.

Mais tarde, surgem notícias de que até mesmo o ovo, rico em gorduras saturadas, faz bem. Nesse momento, apresente à turma cópias das reportagens publicadas na revista Saúde! Questione os alunos sobre como podemos explicar esses resultados aparentemente contraditórios. Eles refletem a lenta acumulação da produção científica, que fornece cada vez mais dados? Ou refletem uma Ciência de qualidade duvidosa, que apresenta dados de forma pouco cautelosa?

A resposta é que acontece um pouco de cada coisa. De fato, pesquisas mais detalhadas proporcionaram um olhar sobre a gordura como um ativador do metabolismo, como se observa nos ácidos graxos. No caso do ovo, não haviam sido considerados nutrientes que resultam no emagrecimento, quando o alimento é ingerido com moderação. Explique ao grupo que mudanças nos contextos que envolvem os estudos científicos podem alterar até mesmo o enfoque da interpretação dos dados, resultando em uma nova conclusão. Trata-se de uma problemática estrutural.

Conte aos alunos sobre Thomas Kuhn  e sua análise sobre a estrutura das revoluções científicas. Discuta ainda o conceito de paradigma em Ciência: um paradigma inaugura uma tradição de investigação, e uma comunidade científica define-se pela adesão de seus membros a essa tradição. Portanto, a forma de se interpretar os dados e a própria formulação do problema a ser investigado são contaminadas pelo espírito científico e pelo paradigma do seu tempo. Com a mudança de paradigmas, os dados são novamente interpretados, chegando-se a conclusões diferentes.

2ª aula
Proponha um estudo de caso estimulando os alunos a pensar sobre os aspectos fundamentais do funcionamento da Ciência. O trabalho poderá ser um estudo sobre a febre puerperal, também chamada febre dos médicos. Em 1847, a doença matava uma em cada seis mulheres que davam à luz no hospital de Viena. Investigando a doença, o obstetra húngaro Ignác Semmelweis chegou à conclusão de que eram os próprios médicos que estavam causando a doença nas pacientes. Ele conseguiu perceber a causa da doença numa época em que pouquíssimo se sabia sobre os micro-organismos patológicos. Essa verdade abriu uma crise na comunidade de médicos, que marcou negativamente a vida do obstetra.

Peça à turma que pesquise esse caso (na biblioteca e/ou no laboratório de informática) à luz de questões sobre os paradigmas e a transitoriedade das verdades. Estimule-os a entender quais foram as explicações e as hipóteses formuladas para a febre antes do trabalho de Ignác Semmelweis e quais seriam as limitações dessas hipóteses em termos de observações iniciais e problematização. Peça que todos notem que as verdades científicas da época estavam condicionadas não só pelas limitações técnicas da Ciência como também pelo paradigma vigente.

Avaliação

Verifique, nas discussões, se os alunos compreenderam a relação entre a prática científica e o contexto no qual ela está inserida. Analise também se essa relação está presente no estudo sobre a febre puerperal e de que modo os alunos registraram seus conhecimentos sobre as verdades transitórias.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA:
A Peste dos Médicos - Germes, Febre pós-parto e a Estranha História de Ignác Semmelweis. Sherwin B. Nuland. Cia. das Letras, 2005.

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